"The important thing is to realize that electric information systems are like environments in the full organic sense." Marshall McLuhan

3.06.2003

Brinquedos

Durante este mês natalício cansar-se-á o leitor de ouvir os apelos do costume: daquilo que devíamos ser e fazer todos os dias e por não o conseguirmos inventamos uma trégua tão breve quanto ineficaz. Paz e harmonia, pois sim, a catarse de usar e deitar fora. Em pouco subtil pano de fundo mesmerizam-lhe também o instinto de comprar, pois o Natal é o êxtase último do consumismo. E já que assim tem de ser – pois o sorriso das crianças é o inefável sentido do Natal – faço daqui outro tipo de apelo: compre brinquedos, mas escolha-os bem. É uma suposição deveras arrojada, mas talvez o brinquedo certo hoje seja o adulto certo de amanhã, e este por sua vez a garantia de paz e harmonia mais duradouras.

Nicholas Negroponte -- fundador do Media Lab e autor do livro “Being Digital” – disse um dia que a computação ubíqua e os nano-computadores iriam um dia entrar-nos casa dentro não pelos electrodomésticos (quase todos eles já possuiem microcircuitos) como seria de esperar, mas sim através dos brinquedos. A principal razão é óbvia: os electrodomésticos trocam-se de dez em dez anos – um ciclo demasiado lento para acompanhar a acelerada mutação e miniturização dos CPUs. Ao invés, os brinquedos são adquiridos, manuseados e desprezados, a um ritmo e frequência ideais.

Não é por acaso que a Intel (o maior fabricante mundial de chips para computador) é um dos maiores patrocionadores do projecto “Toys of Tomorrow” do já supracitado Media Lab; é lícito afirmar que os brinquedos são hoje a vanguarda da inteligência computacional ubíqua e distribuída.

Os melhores exemplos destes “brinquedos inteligentes” encontramo-los nos bonecos Interactive Pooh, da Mattel (os também fabricantes da media darling Barbie) e Actimates Barney, da Microsoft; dos robôs LEGO Mindstorms, munidos de sensores de luz e fricção; e, claro, as diminutas consolas de jogos portáteis que comunicam entre si: os GameBoy.

Walter Benjamin defendia que o brinquedo por excelência é a bola. Porque uma bola não é nada em particular e pode ser tudo na imaginação de uma criança. Mas estes brinquedos de que falamos já não são os sofisticados aparelhos modernistas que brincam sózinhos. Estes brinquedos exigem a inteligência de uma criança, tal como a bola exige a sua imaginação. E é esse verter de inteligência que, acreditamos, muda e melhora a geração.
Pense bem, uma criança de cinco anos com um GameBoy na mão provavelmente manipula mais poder de cálculo que os seus avós durante toda as suas vidas. Como extensão dos seus sentidos tal prática não é, concerteza, impune. Julgo que não é obrigatório ser mcluhanista convicto para se aceitar que a mensagem dos jogos não é a violência de Carmageddon e Mortal Kombat ou a sexualidade de Lara Croft em Tomb Raider mas sim o efeito do feedback e do dual shock na nossa experiência. A mensagem, tal como a definia McLuhan, é a impressão do joystick nas mãos, do botão na ponta dos polegares, o deslizar do espaço tridimensional na retina e, eventualmente, a tragédia universal do game over. Não há brinquedos inteligentes sem crianças inteligentes. O reverso não é verdade, mas que é tranquilizador, é.

 

Photobucket - Video and Image Hosting My events (curator/producer):

>Projecto Ibérica (Lisbon + Madrid 1988, new video creation from the Iberian Peninsula show and conferences)

>Convention Zero (Lisbon, 1996, science-fiction and new media convention, w/ Derrick de Kerckhove, Olu Oguibe, Leo Ferreira and Industrial Light & Magic)

>Art+Technology=Multimedia (Lisbon, 1997, multimedia workshop, w/ Andrea Steinfl and RealWorld)

>Robotica Tribal, by Chico MacMurtrie and Amorphic Robot Works, S. Francisco (Lisbon, 1997, show and exhibition)

>Convention 1.0 (Lisbon, 1998, new media convention and Internet workshop for youths, w/ John Perry Barlow and Derrick de Kerckhove)

>Festival do Fim (Lisbon, 1999, new media and music festival, w/ José Bragança de Miranda, Coldcut, Ninja Tune et al)

>Oeiras Image Festival 02 - "Under Surveillance/Sob Vigilância" (Oeiras, 2002, new media festival, w/ Manuel De Landa, Geert Lovink, David Wood, José Bragança de Miranda et al)

>Oeiras Image Festival 04 - "Síntese/Syntesis" (Oeiras, 2004, new media festival, w/ Marcos Novak, Catherine Malabou, Olu Oguibe, José Bragança de Miranda et al)